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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Igreja: Invista em seus músicos!

"Durante muitos anos, na maioria das igrejas do movimento evangélico, julgava-se comumente que o ministério de música era executado por leigos, sem compensação financeira e no seu 'tempo de folga'. Isso se referia tanto aos regentes de conjuntos corais e organistas quanto aos coristas individualmente. Afinal de contas, os professores da escola dominical não são pagos - nem mesmo o superintendente da escola dominical - por isso, por que os músicos deveriam ser pagos? [...] Mais recentemente estabeleceu-se a concordância generalizada de que uma liderança musical competente exige perícia e cultura especiais - o que requer consideráveis despesas que merecem compensação. E sobretudo, nenhuma pessoa pode contribuir tanto - seja como músico, seja como pastor - se o seu tempo for limitado pela necessidade de ganhar a vida em outra vocação." [1] Quase a totalidade de igrejas evangélicas espalhadas pelo Brasil não investe em salários, cachês, cursos constantes, instrumentos e equipamentos musicais de qualidade para seus músicos. Pagar todos os músicos é inviável e muitas vezes impossível, mas, para aqueles que demonstram talento e habilidade (mais o quesito responsabilidade), que almejam trabalhar na profissão da música e as lideranças (ministros, maestros, regentes, arranjadores...), deveria haver justa remuneração (dentro das possibilidades da igreja) pelo seu trabalho, assim como recebem os pastores. No caso dos pastores ocorre justamente o oposto: no Brasil são poucos os que não recebem salário, motivo que leva muitos músicos a se tornarem “pastores-músicos” (não estou generalizando; concordo e conheço músicos vocacionados para o pastoreio). Para se ter noção de como é necessário investimento na área musical, eis um exemplo a respeito do tempo de dedicação para se tornar um bom músico: segundo pesquisa realizada pela Folha de São Paulo (2008), os estudantes universitários que mais dedicavam horas semanalmente para seus estudos configuravam nessa ordem: em primeiro lugar, os estudantes de Medicina, em segundo, os estudantes dos vários ramos da Engenharia, em terceiro lugar, os músicos. Igreja: invista em seus músicos! Quero listar alguns motivos desse pedido: primeiro, porque hoje dificilmente uma igreja local - seja ela tradicional, pentecostal ou neopentecostal - deixa de utilizar o serviço musical em todos os seus cultos. Se a música é tão útil, por que não investir? Em segundo lugar, porque muitos dos voluntários não têm condições de arcar com todos os custos para se tornarem bons músicos (cursos e materiais didáticos de qualidade, bons instrumentos e equipamentos musicais etc.). Se existem pessoas capazes na equipe, por que não investir? Em terceiro lugar, porque na maioria dos cultos o nível musical e poético é muito baixo. Refiro-me à escolha de músicas do repertório, que hoje cada vez mais está à mercê da indústria cultural gospel. Viajo por diversas cidades e Estados deste país e posso afirmar: as equipes de louvor estão mergulhadas na música de consumo que as rádios, TVs e sites das grandes gravadoras vendem. Se há possibilidade de investimento para que o nível musical e poético seja melhor, por que não investir? Pare e reflita um momento no que estou lhe perguntando: como é a ordem litúrgica na sua igreja? Música, pregação e recados (não necessariamente nessa ordem)? Não se iluda, os palcos eclesiásticos estão na mão de quem manipula o microfone, ou seja, pastores e músicos. Enquanto a Igreja evangélica brasileira não acordar para essa realidade, os músicos vão continuar tocando qualquer nota, cantando qualquer letra e ministrando qualquer “coisa santa” para uma platéia ávida pelo sensacionalismo de líderes carismáticos, que se apresentem travestidos de “ungidos do Senhor”. Não deveria haver espaço para o comodismo de lideranças que outorgam plenos poderes para músicos sem nenhuma experiência conduzirem letras e palavras à congregação no “momento de louvor”, sem um planejamento, preparo e discipulado prévio. A dicotomia entre música e pregação é nítida muitas vezes nos cultos: por exemplo, os músicos cantam versos sobre prosperidade e na sequência o pastor prega contra igrejas que vendem a tal teologia nos púlpitos. Quem pode entender essa mistura? Imagine a cabeça de quem é novo na fé num culto como esse... É necessário investimento na área musical e não me refiro apenas à compra de equipamentos ou às melhorias na acústica do templo. Os músicos estão precisando de discipulado, bíblia, técnica, interpretação e criatividade musical, crítica e autocrítica. Pastores, bispos, presbíteros, evangelistas, diáconos, seminaristas e outros líderes: cuidem de seus músicos e do que eles estão cantando e tocando. Interajam com eles. Ensine-os a terem crítica para não se conformarem com a música que lhes é imposta pela mídia e a desenvolverem autocrítica para perceberem o quanto, muitas vezes, estão aquém de terem o mínimo para serem bons cantores e instrumentistas. Peçam a Deus que líderes experientes musicalmente e comprometidos com Seu Reino surjam para organizarem a música em suas congregações e paguem salários dignos a eles. É papel de vocês cuidar do rebanho, incluindo seus músicos! Músicos: cobrem apoio de seus líderes. Igreja: invista em seus músicos! Sérgio Pereira é formado em História, músico, escritor de materiais didáticos, educador e colunista da revista Cover Baixo. É um apaixonado pelo ministério musical, onde vem participando desde os 12 anos de idade, seja atuando, ensinando equipes ou aprendendo muito com todas elas, construindo e desconstruindo idéias em prol do desenvolvimento da excelência musical junto às igrejas evangélicas brasileiras.

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